“Acabou a história de efeito meramente contábil”

 





A nova lei contábil trará de volta o glamour à profissão de contador, acreditam Antoninho Trevisan, fundador do grupo de empresas que leva seu nome. “Tudo o que tem a ver com números importa. Acabou aquela história de ‘efeito meramente contábil'”, diz, referindo-se a uma das expressão favoritas dos executivos para justificar algum prejuízo incômodo. Com a marcação a mercado nos balanços, lembra, a contabilidade passou a ter um grande impacto financeiro. A quebra do Bear Stearns confirma sua tese.

 





Trevisan, contador há 37 anos, está animado com os novos tempos, depois de uma fase difícil, na época do escândalo do mensalão, em que sua boa relação com o governo acabou sendo um entrave para os negócios. Seu trânsito no poder é tão conhecido que, nos bastidores da profissão, comenta-se que teve relação direta com a agilidade da sanção presidencial à lei. Apesar da intimidade com o trâmite da lei, diz que os bancos foram os grandes incentivadores da aprovação. E mostra-se melindrado com os comentários de seus pares . “Todo mundo pode crescer, só a Trevisan não pode.” Veja a seguir trechos da entrevista concedida ao Valor:

 




Valor: Como foi o bastidor da aprovação da lei? O sr. participou das decisões?

 





Antoninho Marmo Trevisan: Ela ficou sete anos no congresso e não foi percebida pelo governo. A área econômica foi pega de surpresa. A lei andou porque caiu nas graças da Febraban [a federação dos bancos], que viu uma enorme oportunidade de emprestar com mais segurança, e das empresas multinacionais brasileiras, que estavam necessitas de adaptar com urgência seus balanços. O próprio Gerdau [Jorge Gerdau Johannpeter] me contou na reunião do Conselhão da semana passada que a mudança permitiu que ele fizesse as novas aquisições no exterior.

 




Valor: Mas você também não trabalhou para agilizar a lei?

 





Trevisan: Eu esperei 37 anos da minha vida pra ver uma coisa dessas. A lei era desejada pelo mundo empresarial porque houve essa convergência…

 




Valor: Qual convergência?

 





Trevisan: Os bancos precisando emprestar, cheios de dinheiro, as companhias brasileiras crescendo, tendo que buscar capital. Além disso, tinha todo o ambiente de reforma tributária aberto para poder se ajustar essa nova lei, porque há excesso de arrecadação.

 




Valor: A nova contabilidade melhora o cenário econômico do país?

 





Trevisan: Há anos o Brasil não tratava o balanço como uma peça financeira. Quando falo em impacto contábil a sensação que eu passo é que não existe na realidade. É financeiro, sim. Tem impacto no dividendo, no valor da ação… Veja o Bear Stearns… Vivemos, primeiro, a ditadura patrimonialista, do controlador. O balanço aqui só tinha patrimônio. Não tinha nem receita antes da 6.404, de 1976. Depois, a ditadura fiscal. Agora, o mundo está vivendo a ditadura do acionista de um dia. Os balanços serão mais volatéis. Temos que nos adaptar a essa nova realidade. (GV e NN)

Fonte: Valor Econômico

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