Auditoria questionou aquisições suspeitas feitas pela Olympus

Por Mariko Yasu | Bloomberg, de Tóquio

A afiliada da KPMG em Tóquio aprovou em 2009 os resultados da Olympus cinco dias após a firma de auditoria ter confrontado seu cliente fabricante de câmeras sobre irregularidades contábeis, segundo as conclusões de uma investigação que durou um mês.

Os auditores da KPMG Azsa questionaram o então presidente Tsuyoshi Kikukawa e outros executivos em relação a US$ 600 milhões pagos na forma de honorários de consultoria para aquisições e de pagamentos em outras compras, segundo um relatório de uma investigação independente sobre a contabilidade da Olympus. A KPMG aprovou as demonstrações financeiras da empresa depois que um relatório de peritos externos contratados pela Olympus justificou os custos das aquisições.

A não exposição da fraude de US$ 1,7 bilhão que persistiu por mais de uma década prejudicou a credibilidade do Japão e evidenciou uma cultura empresarial de “homens que dizem sim a tudo”, reportaram nesta semana investigadores chefiados por um ex-juiz. A KPMG e a Ernst & Young ShinNihon, que assumiram o encargo da auditoria, terão de responder a questionamentos de agências reguladoras sobre o escândalo.

Em 21 de maio, pouco mais de uma semana depois que a KPMG Azsa tinha aprovado as contas, Kikukawa, da Olympus, visitou a empresa e disse aos auditores que o contrato deles não seria renovado. A KPMG Azsa e a Ernst & Young ShinNihon não transferiram a responsabilidade da auditoria de forma apropriada, disse a comissão.

A Ernst & Young ShinNihon criou uma comissão para investigar sua auditoria na Olympus, de acordo com um comunicado divulgado na semana passada. A ShinNihon disse que pretende publicar os resultados assim que o grupo concluir seu relatório.

A investigação independente envolvendo a Olympus concluiu não haver nenhum problema na auditoria da ShinNihon, disse ontem a empresa de contabilidade. “Houve partes em que a nossa explicação está incompleta e pretendemos dar seguimento.”

A Agência de Serviços Financeiros do Japão está investigando se os auditores podem ter desempenhado algum papel no ocultamento da fraude na Olympus, disse o ministro Shozaburo Jimi.

“Vamos cooperar plenamente com a investigação sobre esse incidente”, disse a KPMG Azsa em comunicado no dia 7.

A KPMG Azsa tinha informado a Olympus já em abril de 2009 para que não publicasse seu relatório de lucros em 12 de maio, a menos que as duas partes pudessem concordar com a contabilização de honorários pagos à Axes America na forma de ações preferenciais na aquisição, por US$ 2,1 bilhões, da Gyrus Group, uma empresa de equipamentos médicos do Reino Unido, disse o relatório da comissão independente. A comissão deu razão a Michael Woodford, primeiro presidente e executivo-chefe estrangeiro da Olympus, demitido em 14 de outubro após ter confrontado o conselho de administração sobre os honorários, pagos à Axam Investment, um extinto fundo nas Ilhas Cayman.

“A empresa de auditoria enfatizou que, efetivamente, uma parte da transação não era razoável”, diz o relatório. Mas a auditoria “descuidadamente aceitou o relatório dos especialistas externos”.

A KPMG Audit em Cardiff, País de Gales, questionou as ações preferenciais da Gyrus na contabilidade referente a 2009 apresentada à Companies House no Reino Unido em março de 2010. A empresa deixou de ser a auditora em parte devido à contabilização das ações por seu cliente, disse em uma carta aos diretores, registrada na Companies House no mês seguinte.

Quando a Ernst & Young aprovou o balanço da Gyrus em 2010, a companhia britânica tinha revisado os lucros de 2009 porque “registrara incorretamente” as ações preferenciais por seu valor nominal. A Gyrus contabilizou as ações em sua contabilidade de fim de ano por US$ 620 milhões, mesmo valor que pagou à Axam.

As subsidiárias tanto da KPMG como da Ernst & Young no Reino Unido disseram não terem recebido informações suficientes sobre as identidades da Axes ou da Axam para que pudessem saber se os pagamentos tinham sido feitos a uma parte relacionada.

O relatório dos investigadores divulgados nesta semana identificou uma teia de empresas offshore criada pela Olympus e uma rede de consultores financeiros, em sua maioria japoneses, usada para ocultar prejuízos de 118 bilhões de ienes (US$ 1,5 bilhão) que remontam à década de 1990. No mês passado, a Olympus admitiu a ocultação de prejuízos.

Numa reunião em 7 de maio de 2009, a KPMG Azsa disse aos executivos de Olympus, entre eles Hideo Yamada e Mori Hisashi, que a menos que eles dessem uma explicação melhor sobre os honorários e pagamentos feitos a fundos “offshore”, a KPMG Azsa poderia ser obrigada a renunciar ao encargo de auditoria, disse o relatório. Tanto Yamada como Mori deixaram o conselho de administração da Olympus na semana passada.

O relatório de 185 páginas sobre a investigação também diz que a KPMG Azsa não conseguiu verificar se os depósitos no exterior realizados pela Olympus no Commerzbank de Frankfurt, no parisiense Société Générale em Cingapura e no LGT Bank em Liechtenstein eram genuínos. Os três bancos não responderam aos pedidos da KPMG Azsa pedindo informações.

A Olympus usou os depósitos como garantia para conceder empréstimos a veículos offshore que foram usados para comprar ativos financeiros debilitados. A saída de dinheiro foi ocultada, pois os contadores da Olympus instruíram os bancos a não responder às indagações da auditora sobre obrigações colaterais, segundo o relatório.

“Estamos cooperando plenamente com a comissão de terceiros”, disse Christof Buri, porta-voz do grupo LGT. “Entramos em contato com eles em novembro por nossa própria iniciativa.”

“Em todos os momentos, o Commerzbank esteve em plena conformidade com todas as leis e obrigações e ajudará a dirimir quaisquer possíveis dúvidas da agência fiscalizadora”, disse Margarita Thiel. A porta-voz Kate Henley, do SocGen, não quis comentar.

O uso de pelo menos 17 entidades nas Ilhas Cayman e nas Ilhas Virgens Britânicas e o conluio de um núcleo “podre” de gerentes de alto escalão ajudaram a manter os auditores no escuro, disse o relatório. (Tradução de Sergio Blum)

Fonte: Valor Econômico

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