Gasto com auditores cresce 33%

É o segundo ano em que os dados sobre pagamento aos auditores são divulgados no Brasil.
Fernando Torres

Os gastos das empresas com auditores externos aumentaram em média 33% entre 2009 e 2010, tendo em conta as despesas com checagem dos balanços e a contratação de outros serviços, como assessoria tributária e pareceres especiais para emissões de ações ou títulos de dívida. Considerando apenas o trabalho de auditoria, o crescimento médio foi de 37%.

É o segundo ano em que os dados sobre pagamento aos auditores são divulgados no Brasil. Como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exige apenas a informação sobre o valor pago em um ano, é a primeira vez que a comparação de crescimento dos pagamentos pode ser feita.

O levantamento foi feito pelo Valor com base em dados informados pelas 200 maiores companhias de capital aberto por valor de mercado.

O crescimento dos montantes pagos não se deve ao aumento do valor por hora trabalhada, garantem os auditores. Mas sim ao maior número de horas de trabalho, sendo que o principal “culpado” é o padrão internacional de contabilidade IFRS, que passou a ser adotado integralmente no Brasil no balanço de 2010.

Esse crescimento médio de 33% no gasto total e de 37% apenas com a auditoria dos balanços foi a alta percebida pelas empresas que contratam os serviços.

Do ponto de vista das auditorias, interessa não apenas a variação média por cliente, mas também os dados consolidados, já que o aumento de 50% nos honorários de um cliente pequeno pode não compensar a queda de 5% no que é pago por uma empresa de maior porte. A soma dos valores recebidos das 200 empresas foi de R$ 414,6 milhões em 2010, sendo R$ 367 milhões pela auditoria dos balanços e R$ 47,6 milhões por outros serviços.

O valor total de receitas com essa clientela teve alta de 7,9% sobre os R$ 384,3 milhões recebidos das mesmas empresas em 2009, enquanto o faturamento apenas com auditoria subiu 9,8% ante os R$ 334,3 milhões registrados há dois anos.

As quatro grandes do setor de auditoria – PricewaterhouseCoopers, Deloitte, KPMG (já incluindo os clientes da Trevisan) e Ernst & Young Terco – atenderam 199 das 200 empresas da amostra pesquisada, o que equivale a 99,5%. Apenas a Telebrás usou uma auditoria de fora desse grupo, a UHY Moreira.

Essa concentração é bem maior do que o índice de 76% que se observa nos dados compilados pela CVM, que incluíam 505 companhias abertas em junho de 2010 (último dado disponível) – muitas delas apenas empresas de participação, sem representatividade no mercado.

A relação entre o valor pago por outros serviços e o gasto com auditoria do balanço, que costuma ser observada para se atestar a independência do trabalho, caiu de 15% para 13% entre 2009 e 2010.

Apesar dos dados analisados em conjunto apontarem para um aumento dos pagamentos, isso não ocorreu com todas as empresas. Da amostra de 200 companhias, em 58% dos casos houve aumento do valor pago pelo serviço de auditoria, sendo que a alta foi maior que 10% em 43% das empresas.

Houve estabilidade em 12% dos contratos, enquanto 30% das companhias abertas conseguiram reduzir os honorários pagos. Empresas que baixaram esse custo em mais de 10% representam 20,5% da amostra analisada.

Pedro Melo, presidente da KPMG no Brasil, diz que o aumento médio dos valores está diretamente ligado à adoção do IFRS. “Foi o primeiro ano de implementação, o que toma mais tempo para identificar as práticas”, afirma. Ainda assim, ele não acena com redução das cobranças a partir deste ano. Para ele, a contabilidade “mudou de patamar” e, como as novas regras preveem mais julgamento, a postura do auditor fica mais severa.

Sergio Romani, sócio de auditoria da Ernst & Young Terco, também admite que houve aumento dos valores recebidos. “Mas é uma recuperação depois da queda dramática que ocorreu em função do rodízio (exigido na década passada pela CVM e que volta a valer em 2012)”, afirma, dizendo que os pagamentos estão apenas voltando para o que se cobrava há dois ou três anos.

De acordo com o sócio da E&Y, é difícil fazer comparações internacionais para evidenciar que os honorários pagos no Brasil estão baratos. Mas ele destaca a questão cambial ao lembrar que se o valor de US$ 100 por hora representava de R$ 220 a R$ 230 em 2002 e 2003, hoje o mesmo preço em dólares significa R$ 160 de receita para a firma de auditoria. “Sem contar o aumento da relevância do trabalho, da exposição e da sofisticação das regras”, diz.

Sobre esse último ponto, Romani diz que, por conta da adoção do IFRS, houve uma mudança no mix das equipes, que passaram a ter mais executivos experientes. “Envolve também mais gastos com atuários e com especialistas em avaliação, o que não ocorria com tanta ênfase”, diz, ao se referir à necessidade de se calcular a provisão de gastos com planos de pensão de funcionários, programas de opção de ações e testes de valor recuperável de ativos.

Ao olhar para frente, Romani diz que a tendência é de aumento dos honorários, a não ser que no rodízio obrigatório as firmas de auditoria baixem as tarifas em busca de participação de mercado, o que afirma não considerar como o “posicionamento adequado”.

Para o executivo da Ernst & Young, o mercado como um todo para as firmas de auditoria está aquecido, incluindo não apenas as empresas listadas em bolsa, mas também aquelas de menor porte que buscam abertura de capital e as companhias fechadas com receita acima de R$ 300 milhões que passaram a ter a obrigação de auditar os balanços.

Vale notar que os R$ 414,6 milhões recebidos pelas empresas de auditoria equivalem a apenas 15% do que as maiores companhias do setor dizem ter faturado no ano fiscal de 2010. O restante vem de auditoria de empresas fechadas, serviços de consultoria empresarial e tributária e terceirização de contabilidade.

É importante destacar também o peso dos grandes clientes no faturamento total. As dez melhores contas de 2010 representaram 44,8% do total pago pelas 200 empresas do levantamento, considerando auditoria e outros serviços.

O Itaú Unibanco seguiu na liderança como a empresa que mais pagou por esses serviços, num total de R$ 41,7 milhões. Bradesco, com R$ 34,1 milhões, e Petrobras, com R$ 28,5 milhões, aparecem em seguida. Os dois bancos foram auditados pela PwC em 2009 e 2010, enquanto a petroleira é cliente da KPMG.

Do total da amostra, 30 pagaram mais de R$ 3 milhões pelos serviços, enquanto 80 desembolsaram mais de R$ 1 milhão. Na ponta de baixo, 68 empresas pagaram menos de R$ 500 mil, sempre considerando o trabalho de auditoria e outros serviços.

PwC lidera conquista de clientes, mas perde Bradesco

A PricewaterhouseCoopers desponta como a empresa que mais ganhou clientes de concorrentes em 2010, conquistando contas importantes como as de Braskem, Ambev, Fibria e TIM. Embora tenha 21% dos clientes da amostra das 200 maiores companhias abertas, a PwC ficou com 43,2% dos valores pagos por essas empresas. Em 2009, a fatia da PwC em número de clientes era de 17%, enquanto a participação na receita era de 35,3%, o que já lhe garantia a liderança de mercado por esse critério.

No entanto, a participação deve cair em 2011, depois de a PwC ter pedido a conta do Bradesco, a segunda melhor do mercado em 2010, para a KPMG. “Após cinco anos com o balanço auditado pela PwC e tendo como base experiências anteriores, o banco entendeu que seria positivo promover a troca de auditores neste ano, reforçando as boas práticas de governança corporativa”, disse o Bradesco em nota.

No caso de Braskem e Fibria, a PwC já auditava o balanço divulgado conforme as regras contábeis americanas, enquanto KPMG e Terco, respectivamente, checavam os demonstrativos nas regras brasileiras de contabilidade.

Segundo Braskem e Fibria, a contratação da PwC para realizar todo o serviço explica por que os valores informados no Formulário de Referência mudaram tanto de um ano para o outro.

A petroquímica havia pago R$ 1,8 milhão para a KPMG pelos serviços de auditoria do balanço de 2009. No ano passado, remunerou a PwC com R$ 9,5 milhões.

A Fibria pagou R$ 835 mil pelos serviços de auditoria da Terco em 2009. Em 2010, o valor informado é de R$ 4,8 milhões apenas pela auditoria, pago à PwC.

Outra discrepância encontrada no levantamento se refere aos valores pagos pela Marfrig. Auditada pela BDO nos dois anos, ela informou ter pago R$ 346 mil pelos serviços de auditoria em 2009 e R$ 6,5 milhões no ano passado. Procurada, a empresa disse que mudou de “patamar em 2010, com a incorporação da Seara Alimentos, da O’Kane (Europa) e da Keystone (Estados Unidos)”. Afirmou ainda que o crescimento da organização exigiu mais trabalho da auditoria.

Considerando os valores pagos, a soma de KPMG e BDO representou 21,6% do total desembolsado pelas 200 empresas em 2010 (sendo 18,7% da primeira e 2,9% da segunda), contra uma fatia de 20,5% um ano antes. A Deloitte aparece em seguida com uma participação de 17,8% (ante 24,2% em 2009), seguida de perto pela Ernst & Young Terco, com 17,4% (ante 19,9% no ano anterior).

A queda relativa de faturamento da E&Y se explica principalmente pela perda da conta da TIM. Em 2009, a empresa de telefonia havia pago R$ 7,1 milhões apenas pela auditoria dos balanços, valor próximo aos R$ 7,6 milhões exigidos da Vivo pelo serviço.

No ano passado, a TIM pagou R$ 1,8 milhão para a PwC. Ao ser questionada sobre a queda tão grande do valor, a empresa de telefonia disse por e-mail que “o motivo foi a negociação do contrato em novas bases, levando em consideração as operações do Brasil e Itália”.

Já a Deloitte perdeu a conta da seguradora SulAmérica, que havia sido de R$ 2,6 milhões em 2009, para a KPMG, que cobrou R$ 1,6 milhão no ano passado. O argumento da empresa para a troca foi a unificação de auditores com empresas do mesmo grupo.

Fonte: Valor Econômico

Compartilhar