O aumento do dólar e dos juros, a informalidade na indústria de pescados e o investimento de R$ 20 milhões nos últimos três anos, foram alguns dos motivos que levaram a Leardini Pescados a entrar com pedido de recuperação judicial _ medida jurídica adotada por empresas quando elas perdem a capacidade de pagar suas dívidas_ na última terça-feira. As razões foram listadas pelo presidente, Attilio Sergio Leardini, em coletiva de imprensa na manhã deste sábado.
O pedido foi deferido pelo titular da 1ª Vara Cível de Navegantes, o juiz Tanit Adrian Perozzo Daltoé, na sexta-feira. Agora, a empresa, que é uma das maiores no processamento de pescados no país, tem 60 dias para apresentar o plano de recuperação judicial: “de forma consistente e adequada, pautado em instrumentos jurídicos, econômicos, administrativos e contábeis, sob pena de ser decretada sua falência”, determina Daltoé.
A decisão também prevê que a Leardini preste contas mensalmente à Justiça, para que o juiz possa fiscalizar se o plano de recuperação está, de fato, sendo cumprido. E suspende o pagamento de dívidas, com exceção das fiscais e trabalhistas, até a manifestação dos credores quanto ao plano.
A empresa terá, ainda, que acrescentar ao seu nome a expressão “em Recuperação Judicial” em todos os atos, contratos e documentos que firmar.
A advogada de Blumenau Mará Denise Poffo Wilhelm foi nomeada por Daltoé para ser a administradora judicial.
O fator dólar
O aumento do dólar, conforme o presidente da Leardini Pescados, Attilio Sergio Leardini, “é o principal fator” que levou a empresa a entrar com o pedido de recuperação judicial. Isso porque, as importações respondem por 65% do pescado processado pela indústria, enquanto as exportações representam 15% da produção.
_ Nos últimos 12 meses o dólar teve um aumento de 50%, isso fez a nossa dívida quase que dobrar _ afirma o empresário, sem revelar o total da dívida.
Attilio informa que nos últimos 18 meses, entre as ações tomadas pela empresa para melhorar o desempenho, esteve a diminuição no volume das importações, que chegou a ser de 75%.
_ Estamos comprando mais do mercado interno e começamos a exportar nas filiais de Belém (PA) e Fortaleza (CE) e Rio Grande (RS). Apostamos mais forte no camarão de cultivo de Fortaleza e diminuímos a compra da polaca e merluza (espécies estrangeiras) _ disse.
Competir com outras processadoras de pescado que funcionam na informalidade também prejudicou a Leardini, de acordo com o empresário.
_ Concorrer com isso é bem complicado. Na Leardini não existe meia nota _ disse.
Attilio também cita a crise na economia brasileira, que dentre as consequências, elevou a taxa dos juros, e o custo Brasil _ dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem a produção _ para justificar o atual momento da Leardini.
_ Dentro dessa crise, dá para dizer que o custo Brasil tem peso significativo _ avalia.
Independente das dificuldades pela qual a processadora de pescados está passando, Attilio garante que a “empresa é viável”.
_ Meu sentimento é de oportunidade, de virar a página. A Leardini vai seguir operando com mais maestria nesta segunda-feira do que operou na sexta.
Credores
O presidente da Leardini Pescados, Attilio Sergio Leardini, informa que a empresa não tem dívidas trabalhistas e nem de impostos. Segundo ele, 85% da dívida da processadora hoje corresponde a empréstimos de bancos e o restante a fornecedores.
_ A gente tem muita credibilidade no mercado. Tudo com que nos comprometemos a gente cumpre. Acredito que vai continuar havendo uma boa relação com os fornecedores e com os bancos _ observa.
O executivo informou pessoalmente os funcionários da empresa a respeito da recuperação judicial na tarde de sexta-feira. Attilio também começou a informar os principais credores na tarde deste sábado, via telefone. Ele nega que o plano de recuperação acarrete demissões.
Se houver demissões vai ser por movimentos naturais da empresa e não pela recuperação judicial garante.
Curiosidade
Attilio Sergio Leardini fundou a empresa em 1988 com um colaborador. Na época, comprava peixes frescos dos pescadores que aportavam em Itajaí e os revendia em um caminhão atrás do Mercado Público para clientes de Blumenau, Brusque, Florianópolis e Chapecó.
Números da Leardini
Faturamento 2014 – R$ 210 milhões
Funcionários – 400 (somente em Navegantes)
Clientes – 4 mil (entre brasileiros e estrangeiros)
Produção – 24 mil toneladas por ano
Filiais – 5 (Fortaleza (CE), São Paulo, Rio Grande (RS), Belém (PA) e Recife (PE)
Bancos Credores
– Banrisul (principal)
– Banco do Brasil
– Votorantin
– BNDS
– Safra
– Itaú
Fonte: O Sol Diário