Fiscalização da Receita Federal foca agora em apostas, plataformas como Airbnb e bases negativas de tributos

A Receita Federal anunciou as prioridades de sua atuação fiscal para 2025, com destaque para três frentes principais: fiscalização de casas de apostas (bets), operações realizadas em plataformas digitais como Airbnb e marketplaces, e uso indevido de prejuízos fiscais e bases negativas de tributos. As ações constam no Relatório Anual de Fiscalização, divulgado na última semana, e visam ampliar a arrecadação federal e mitigar riscos de fraudes e descumprimentos legais.

Apostas esportivas entram pela primeira vez na mira do Fisco

Pela primeira vez, as casas de apostas de quota fixa — conhecidas como “bets” — passam a integrar a lista de temas prioritários para a fiscalização federal. A inclusão ocorre após a regulamentação do setor, que entrou em vigor neste ano, e busca garantir a conformidade com as regras do mercado legalizado.

Um grupo de trabalho formado por representantes da Receita Federal e da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda foi constituído para propor ações de monitoramento e combate à atuação de empresas que operam à margem da legislação vigente.

Fisco mira locações por temporada e vendas em marketplaces

As operações realizadas em plataformas digitais também serão fiscalizadas com maior rigor. O foco inclui:

– Aluguéis de imóveis por temporada, intermediados por plataformas como o Airbnb;

– Venda de produtos por pessoas físicas e jurídicas em marketplaces digitais.

Segundo a Receita Federal, serão publicados manuais de orientação com diretrizes sobre a tributação dos rendimentos recebidos por essas operações. A intenção é facilitar o cumprimento voluntário das obrigações fiscais e estimular a autorregularização por parte dos contribuintes.

O órgão também anunciou ações específicas para regularização espontânea de rendimentos de locação não declarados. Reuniões com plataformas digitais continuarão a ocorrer em 2025. O Airbnb, por exemplo, já forneceu dados ao Fisco sobre locações realizadas entre 2020 e 2024 e orientou os anfitriões a declararem os ganhos no Imposto de Renda.

Receita prioriza autorregularização e comunicação com contribuintes

De acordo com a subsecretária de Fiscalização da Receita Federal, Andrea Costa Chaves, o órgão seguirá priorizando ações educativas. “Vamos continuar investindo em facilitação e assistência antes de partir para o controle coercitivo. Isso não vai mudar neste ano”, afirmou.

A Receita pretende lançar novos manuais explicativos voltados aos principais temas sob fiscalização em 2025, com o objetivo de reforçar a conformidade tributária e reduzir o litígio fiscal.

Prejuízo fiscal e CSLL estão no radar da fiscalização

Outro ponto relevante do plano de fiscalização é o uso indevido de prejuízos fiscais do IRPJ e de bases de cálculo negativas da CSLL. Segundo o relatório, há indícios de contribuintes declarando valores superiores aos efetivamente apurados para abater débitos ou negociar transações tributárias.

A Receita anunciou que adotará medidas coercitivas contra práticas de compensação fictícia ou indevida. A advogada Thais Shingai, sócia do escritório Mannrich e Vasconcelos Advogados, destaca que esse tipo de uso passou a atrair atenção do Fisco especialmente após a popularização das transações tributárias. “Os prejuízos fiscais tornaram-se ativos valiosos para as empresas e, por isso, sujeitos a maior escrutínio”, afirma.

A medida visa garantir que as deduções estejam de acordo com os critérios legais e que não haja manipulação para redução artificial da carga tributária.

Subvenção para investimento também está sob análise

A Receita Federal também manterá o monitoramento sobre o uso de subvenções para investimentos, conforme previsto na Lei nº 14.789/2023. O foco está nas exclusões indevidas da base de cálculo do IRPJ e da CSLL feitas por empresas que interpretam de forma divergente a jurisprudência recente do STJ.

Segundo a Receita, parte das exclusões identificadas em 2024 não encontra respaldo jurídico. Para orientar os contribuintes, será lançado manual específico sobre o tema, reforçando os limites legais para esse tipo de benefício fiscal.

A advogada tributarista Andrea Feitosa, sócia do escritório Martorelli Advogados, elogia a iniciativa de produção dos manuais. “Esse modelo de comunicação mais orientativa aproxima o contribuinte da Receita e traz mais previsibilidade. Contudo, é importante lembrar que manuais não têm força normativa para gerar penalidades”, alerta.

Outros temas prioritários para 2025

Além das apostas, plataformas digitais e uso de prejuízo fiscal, o relatório da Receita Federal destaca outros focos de fiscalização para este ano:

– Desenvolvimento e testes dos novos documentos fiscais eletrônicos da Reforma Tributária do consumo;

– Calculadora dos tributos CBS e IBS, para auxiliar contribuintes na transição;

– Expansão do programa Confia, voltado à conformidade cooperativa entre grandes empresas e Receita;

– Adoção do eSocial por entes públicos;

– Fiscalização de adesões indevidas ao Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse);

– Autorregularização da Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005), voltada a incentivos à inovação tecnológica.

Impactos para o contribuinte e papel da contabilidade

O novo plano de fiscalização amplia o campo de atuação da Receita Federal sobre atividades que, até pouco tempo, estavam fora do radar prioritário. Contadores e consultores tributários devem orientar seus clientes quanto à:

– Correta declaração de rendimentos obtidos com aluguel de curta duração;

– Identificação e registro adequado de prejuízos fiscais e bases negativas;

– Revisão de lançamentos vinculados a benefícios fiscais;

– Acompanhamento das novas obrigações acessórias ligadas à reforma tributária.

A contabilidade consultiva e preventiva ganha ainda mais relevância diante do avanço da digitalização e do cruzamento de dados fiscais automatizados, prática crescente dentro do Fisco.

Relatório Anual de Fiscalização da Receita Federal para 2025 sinaliza um movimento estratégico de atuação sobre setores que envolvem novas formas de geração de renda, uso intensivo da tecnologia e regimes tributários complexos. A prioridade em orientar antes de punir permanece, mas o avanço sobre bets, plataformas digitais e prejuízo fiscal reforça o papel preventivo dos profissionais da contabilidade.

Contribuintes que atuam em apostas, locações por temporada ou possuem prejuízos fiscais acumulados devem buscar orientação contábil especializada e acompanhar a publicação dos manuais da Receita Federal para evitar autuações e garantir conformidade.

Fonte: Contábeis.

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