‘Brasil é pouco auditado’, diz novo presidente do Ibracon

Por De São Paulo

Passado o período mais crítico do processo de mudança de normas contábeis no Brasil, que exigiu uma dedicação especial à parte técnica, os auditores querem agora se concentrar em um novo desafio, bem mais trivial: aumentar seu mercado de trabalho.

“O Brasil é muito pouco auditado”, resume Eduardo Pocetti, eleito na segunda-feira para um mandato de três anos como presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon). Ele substitui Ana María Elorrieta, sócia da PricewaterhouseCoopers, que encerrou no fim de dezembro seu período à frente do órgão que representa a classe.

Hoje sócio da KPMG, Pocetti iniciou sua carreira em 1976, como trainee da empresa que atualmente é a PwC. Até março do ano passado, era presidente da BDO Trevisan, quando a empresa foi comprada pela KPMG.

O fim do seu triênio à frente do Ibracon vai coincidir também com sua aposentadoria como auditor, uma vez que terá completado 60 anos, idade limite prevista no regulamento da KPMG.

Antes disso, ele espera ter muito trabalho. “O negócio é fazer a malinha e botar o pé na estrada. Visitar parlamentares, judiciário, tribunais de contas, federações de indústria etc. A meta é conseguir que eles conheçam e entendam mais o trabalho do auditor”, afirmou Pocetti ao Valor.

E o objetivo por trás da estratégia não é escondido. “Queremos ter cada vez mais leis exigindo auditoria. O Brasil não é auditado. No Reino Unido, até padaria é auditada. Na Argentina, todas as empresas precisam de auditoria. No Brasil o mercado ainda é muito pequeno”, diz o novo presidente do Ibracon, que cita o benefício que a prática de auditoria traz para o ambiente de negócios.

Ele lembra que a lei 11.638, de 2007, que lançou as bases para a mudança do padrão contábil brasileiro para o IFRS, também determinou que as empresas fechadas de grande porte fossem obrigatoriamente auditadas, assim como já ocorre com as S.As. “Tenho certeza que muitas empresas que estão enquadradas desconhecem a lei”, afirma.

Pela lei, são consideradas empresas de grande porte aquelas que tenham mais de R$ 300 milhões em faturamento bruto anual ou que possuam ativos totais acima de R$ 240 milhões.

Como as grandes empresas fechadas não são obrigadas a publicar e nem mesmo a divulgar o balanço auditado na internet, não existe um mecanismo oficial para se checar quem está cumprindo ou não a legislação.

Mas os desafios de Pocetti não se limitam a explicar o trabalho do auditor àqueles que supostamente não são tão familiarizados com a profissão. Mesmo entre os investidores, que estão envolvidos diretamente com o mercado de capitais, também existem dúvidas sobre o papel do auditor.

Por mais explicações que os representantes da área já tenham dado, ainda existe – no mundo todo – um vão entre o que o público imagina que significa o trabalho auditor e o que realmente esse profissional assegura no seu parecer sobre as demonstrações financeiras de uma companhia.

Não por outro motivo, sempre que se descobre fraude nos balanços a pergunta é a mesma: “onde estavam os auditores?”

O novo presidente do Ibracon reconhece que esse desafio ainda persiste. “Não podemos ser prepotentes e dizer que a sociedade está errada. Cabe a nós mostrar para ela o nosso papel. A nossa responsabilidade e a limitação da nossa responsabilidade “, diz.

Entretanto, ele afirma que nada pode fazer para mudar o código de ética da profissão, que impede o auditor de falar sobre seu cliente. “Só quem pode abrir ou expor o trabalho é o próprio cliente que contrata ou o regulador”, afirma Pocetti.

Pocetti foi questionado também sobre a concorrência pela conta do Banco do Brasil. Em novembro de 2010, uma disputa de pregão eletrônico entre KPMG e Ernst & Young derrubou os honorários anuais para checagem do balanço da maior instituição financeira do país para R$ 80 mil. Sem entrar na discussão específica, ele disse apenas que o Ibracon é contra o uso de leilão para contratação de auditoria. “Somos contra, porque ele não leva em conta a competência técnica.” (FT)

Fonte: Valor Econômico

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