Os imensos recursos que hoje oferecem as doutrinas da Contabilidade permitem uma visão competente para orientar administrações, investidores, autoridades fiscais e judiciárias, em suma, tantos quantos necessitem entender sobre a “dinâmica dos capitais”.
Tal foi o progresso ocorrido que é impossível a quem não possua uma formação cultural específica interpretar a linguagem das demonstrações contábeis e até mesmo entender o que ela possa oferecer como recurso intelectual.
A visão antiga de que apenas guardar memória dos fatos e comprová-los era o bastante, ficou já há bastante tempo superada no tempo.
Entender o que se memoriza, reconhecer que existem fenômenos específicos a serem estudados relativos ao movimento do patrimônio, foi uma percepção que há mais de dois milênios e meio já estava despertada no oriente e entre pensadores da antiga Grécia.
Afirmou o grande pensador Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) que havia uma ciência que cuidava da riqueza dos indivíduos e que essa não era a Economia, mas, sim um conhecimento distinto (obra “A Política”).
Na antiga Índia, Kautylia em seu famoso “Arthasastra” (300 a.C.) já evidenciava conhecimentos da área contábil e os tratava como algo específico.
Consultores contábeis, ao longo do tempo manifestaram suas opiniões e foi um deles, famoso em sua época, o precursor da construção de uma disciplinada forma de entender os registros.
Refiro-me a Ângelo Pietra que em 1586 empreendeu o passo decisivo para a edificação científica da Contabilidade, produzindo conceitos básicos.
A partir das formações conceituais surgiram as Teorias, inicialmente de natureza limitada à “forma”, mas, depois, no século XIX, objetivando a “essência”, ou seja, o “patrimônio”.
A partir dos estudos que se realizaram posteriormente (já nos fins do século XVIII) a Contabilidade foi finalmente consagrada como ciência (1836) pela mais famosa entidade intelectual do mundo de seu tempo, a Academia de Ciências da França (a mesma que dentre outras abrigou as teses de Lavoisier, pai a Química Moderna e Pasteur, pai da Microbiologia).
Há, pois, cerca de dois séculos que a Contabilidade foi reconhecida como conhecimento específico de ordem superior, competente para acompanhar a dinâmica da riqueza e interpretá-la com segurança.
Os estudos avançados do século XX elevaram todo o acervo do passado a um patamar expressivo e a mais moderna corrente científica, o Neopatrimonialismo Contábil, acolheu e produziu em sua doutrina um expressivo número de modelos de comportamento dinâmico da riqueza dos empreendimentos (sobre os mesmos sugiro consulta à minha obra “A Moderna Análise de Balanço ao Alcance de Todos”, Editora JURUÁ).
Os referidos modelos sustentam hoje o “Axioma” da “Prosperidade”, ou seja, o grande objetivo de tornar a riqueza útil de forma constante.
Tão específico tornou-se tal conhecimento que só especialistas com boa formação cultural conseguem exercê-lo em nível de análise, perícia, auditoria, custos, planejamento, controle e consultoria.
Nos países desenvolvidos e em muitos “emergentes” em suas economias, os Contadores são imprescindíveis no assessoramento dos negócios e da gestão, não apenas como “informantes”, mas, especialmente como “consultores”.
Em minha longa carreira profissional tive ocasião de presenciar sucesso e fracasso de empresas de acordo com a qualidade do conhecimento contábil a elas oferecido e por elas utilizado.
O mau uso do conhecimento especializado ou a ausência dele tem sido responsável por um sem número de fracassos nos empreendimentos; tal fato, entendo, responsabiliza duplamente – ao usuário e ao profissional.
Ou seja, os que deixam de recorrer aos especialistas e os especialistas que não sabem socorrer são, ambos, os grandes responsáveis pela maioria dos fracassos no mundo dos negócios.
Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá
Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, 1964; Doutor em Letras, H.C., pela Samuel Benjamin Thomas University, de Londres, Inglaterra, 1999. Administrador, Contador e Economista, Consultor, Professor, Cientista e Escritor. Vice Presidente da Academia Nacional de Economia (Brasil), Vice Presidente da Academia Brasileira de Ciências Contábeis, membro de honra do International Reserarch Institute de New Jersey, Prêmio Internacional de Literatura Cientifica, autor de 176 livros e mais de 13.000 artigos editados internacionalmente.
E-mail:lopessa.bhz@terra.com.br
Fonte: Netlegis