Por Júlia Pitthan
Após a publicação das medidas do governo federal para estimular a produção industrial no Brasil, as empresas debruçaram-se sobre a sua contabilidade à procura do impacto que o projeto poderia trazer aos seus resultados. No setor têxtil, a medida foi considerada insuficiente por alguns empresários.
Segundo Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex), entre as empresas que se beneficiarão da medida, o teto de desoneração alcançado é na casa de 1% em relação ao bolo final de tributos pagos. “Não era esse o espírito da proposta de ganhar competitividade.”
Na avaliação de Kuhn, apesar de a proposta do governo reduzir a zero a alíquota de 20% para o INSS, a criação de uma nova taxa, de 1,5%, que incidirá sobre o faturamento total da companhia, cria uma situação de pouca vantagem para o setor. Segundo ele, a proposta não favorece o modelo de negócio catarinense, que trabalha com frequência com a terceirização de serviços em facções.
Para Vicente Donini, presidente do conselho de administração da Marisol, a criação da taxa de 1,5% acaba neutralizando a proposta de zerar a alíquota de 20% de INSS. Segundo cálculos da companhia, que não terceiriza a produção e mantém cerca de 5,3 mil empregados diretos em unidades nos Estados do Ceará, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o impacto positivo do programa será de 0,8% sobre o total de tributos pagos ao governo. “As dificuldades setoriais são infinitamente maiores do que o governo se propõe a desonerar.”
O empresário também questionou o sentido de urgência do governo, já que as medidas começarão a valer em dezembro. “Temos de ver quem sobrevive até lá”, disse. “Faltou coragem para implementar uma política industrial que garantisse mais competitividade. O governo ficou receoso em perder a arrecadação e trocou seis por meia dúzia”, complementou
A Marisol faturou R$ 211,8 milhões no primeiro semestre deste ano, com crescimento de 9,9% sobre igual período do ano anterior. Além de atuar no ramo de confecção com as marcas Tigor T. Tiger, Lilica Ripilica, Rosa Chá e Pakalolo, entre outras, mantém produção de calçados, com unidade no Rio Grande do Sul. A empresa também mantém negócios no varejo, com lojas próprias e franqueadas.
A medida do governo, neste momento, não beneficiará as fabricantes de itens de cama, mesa e banho como a Döhler, de Joinville (SC). Segundo o diretor Carlos Alexandre Döhler, apesar de não ter beneficiado diretamente os negócios da companhia, o pacote é positivo porque sinaliza disposição do governo de efetivamente mexer em temas como a desoneração tributária. “Segmentos que vinham sofrendo com a falta de competitividade, como o calçadista, foram contemplados. Isso já representa um grande avanço.”
Fonte: Valor Econômico