Cidade digital






Durante as últimas décadas, virou quase chavão dizer que Curitiba é exemplo em planejamento urbano, soluções para o transporte coletivo e planos de preservação do meio ambiente. Agora, a capital paranaense espera ser reconhecida por outro atributo, o de tecnópole. Para isso criou o Tecnoparque, com a estratégia de estimular o investimento de empresas de tecnologia em quatro áreas demarcadas da cidade, nas quais haverá interação entre poder público, iniciativa privada e instituições de ensino. O projeto foi lançado há apenas três meses e já reúne um time de respeito. Até agora, 32 empresas assinaram protocolos de intenção e planejam fazer parte do programa.


 







A lista é encabeçada pela Positivo Informática, maior fabricante de computadores do país, e continua com a franco-holandesa Atos Origin, que presta serviços de tecnologia da informação. Depois vêm o banco HSBC, a indiana Wipro, a BRQ e outras companhias que, juntas, devem gerar 10,3 mil empregos no município até 2010. “Nossa intenção é que esses números cresçam, porque é um programa ambicioso”, diz o prefeito Beto Richa (PSDB).


 







Não será a primeira incursão do município na área. No último guia que publicou com informações socioeconômicas para orientar investidores, a prefeitura mostrou que contava, em 2006, com 3.615 empresas da área de tecnologia, que geravam 17.250 empregos. Estavam na lista desde de fabricantes de equipamentos de informática e estabelecimentos que atuam na área de desenvolvimento de programas até os que fazem manutenção. Não há números oficiais recentes para mostrar o que aconteceu de lá para cá, mas o presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento, Juraci Barbosa Sobrinho, diz que conversa com duas empresas de fora por semana, interessadas em saber mais sobre o Tecnoparque. Segundo ele, ao menos mais dez estão em processo avançado de negociação para também assinar o termo de compromisso com a prefeitura.


 







“As empresas buscam bom ambiente, mobilidade e capital humano”, afirma Barbosa Sobrinho. Por isso, todo interessado em fazer parte do programa é informado de que a cidade conta com 55 instituições de ensino superior, e que o grau de instrução dos trabalhadores locais está acima da média nacional – 25,8% têm curso superior completo, enquanto a média do país é de 14,7%. Além disso, o Tecnoparque conta com regime fiscal próprio, plano urbanístico, incentivos para construção, conectividade e serviços de apoio às atividades produtivas.


 







A prefeitura irá liderar a integração entre as empresas, universidades e institutos de pesquisa para estruturar o pólo de serviços tecnológicos. As empresas que se instalarem no núcleo central do Tecnoparque, na zona leste (próximo às principais instituições de ensino superior do Estado, que reúnem 40 mil estudantes e 3 mil professores), contarão com incentivos como isenção do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), isenção por dez anos do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e redução do Imposto Sobre Serviços (ISS) e de 5% para 2%.


 







Com o chamado ISS Tecnológico, que permite que as empresas prestadoras de serviços invistam parte do imposto devido em pesquisas e equipamentos, a prefeitura liberou R$ 16 milhões de 2005 a 2007. Em maio, outros R$ 10 milhões foram liberados e, em um mês, 64 projetos estavam em análise e havia outros 148 na fila. Até agora, 204 empresas já foram beneficiadas pelo programa. De acordo com Barbosa Sobrinho, a vantagem fiscal tem sido vista como um bom atrativo.


 







O secretário de finanças do município, Luiz Eduardo Sebastiani, informa que a arrecadação cresce também. De janeiro a maio, as receitas com ISS aumentaram 14% na comparação com igual período de 2007, em função do crescimento das empresas e maior fiscalização. O imposto responde por 18,8% da arrecadação. Também cresceram nos cinco meses as receitas com IPTU (6%), IPVA (5%) e ITBI (21%), este último por conta do aquecimento imobiliário.


 







Os alvos principais do Tecnoparque são companhias que atuam em sistemas de telecomunicações, equipamentos de informática, desenvolvimento de software, gestão de dados e distribuição eletrônica de informações, pesquisa e desenvolvimento, design, laboratórios de ensaios e testes de qualidade, instrumentos de precisão e automação industrial, além de novas tecnologias da área de saúde. Além das gigantes do setor já citadas, empresas menores aderiram ao programa, como a FH Consulting, parceira da SAP que conta com cem empregados e espera gerar outras cem vagas em quatro anos.


 







Barbosa Sobrinho explica que, para que empreendedores aproveitem o bom momento pelo qual passa a cidade, há o programa Bom Negócio, que oferece capacitação gratuita em gestão empresarial. Pesquisa feita recentemente mostrou que 35% dos participantes do programa aumentaram o faturamento, 22% tiveram aumento de renda e 49% fizeram investimentos, principalmente em máquinas e equipamentos. Até agora 4,4 mil pessoas passaram pelo curso do Bom Negócio, que tem duração de três semanas.


 







A meta da prefeitura é envolver toda a cidade no programa, por isso as obras da chamada Linha Verde, que criará um novo eixo de transporte em Curitiba, próximo ao Tecnoparque, também são citadas como medidas para tornar o transporte mais eficiente. A extensão total da nova avenida é de 18 quilômetros e ela irá atravessar dez bairros. O trecho em construção tem 9,4 km e nele estão sendo investidos R$ 121 milhões, financiados parcialmente pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).


 







“É a maior obra viária em implantação no Paraná”, diz o prefeito Richa. A avenida terá oito faixas de tráfego (quatro em cada sentido), canaletas para ônibus em concreto, oito estações de transporte, quatro binários de integração, dez quilômetros de ciclovia, parque com 21 mil metros quadrados e nova sinalização, semáforos, iluminação e paisagismo com 2,5 mil árvores.


 







Os ônibus passarão a ter dispositivos eletrônicos que irão garantir que encontrem sempre semáforos abertos. “A prioridade total será para os ônibus”, explica Guacira Civolani, gestora de operação de trânsito da Urbs, empresa municipal que administra o transporte em Curitiba. Segundo ela, atualmente já é usado dispositivo no asfalto que avisa o sistema quando os ônibus passam, para que os semáforos sejam abertos e gerem uma onda verde, mas para que isso dê certo é preciso contar com velocidade adequada, o que nem sempre é possível.


 







Agora, haverá equipamentos nos ônibus e antenas ao longo da via exclusiva para sua circulação. O usuário irá embarcar no bairro Pinheirinho, passará por cinco estações de embarque e desembarque e chegará ao centro da cidade, distante 13 quilômetros, sem parar em semáforo vermelho, o que reduzirá o tempo de deslocamento.


 

Fonte: Audi Factor

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